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Um bebê de esperança no país que mais mata gestantes pela Covid-19
Enrico, o bebê que nasceu com anticorpos contra o coronavírus, é um sopro de esperança para todas as grávidas, puérperas e lactantes do nosso Brasil, país que infelizmente lidera o ranking mundial de mortes de gestantes pela Covid-19.
A vacina que sua mãe, a médica Talita Mengali Izidoro, tomou ainda grávida de 34 semanas, protegeu a gestação e ainda produziu os anticorpos contra o vírus Sars-Cov-2 encontrado no bebê catarinense, após o nascimento.
Essa comprovação da existência dos anticorpos no bebê brasileiro comprova os diversos estudos que destacam os benefícios da imunização para reduzir a mortalidade das gestantes, puérperas e lactantes, além de resguardar a vida dos recém-nascidos.
A pandemia do coronavírus agravada pela incapacidade do poder público afeta particularmente a mulher e, de uma forma muito cruel, aquela mulher que vive o momento sublime de gerar uma vida.
As maternidades têm poucas ou nenhuma estrutura de UTI para controlar a síndrome respiratória aguda grave nas gestantes, mantendo o suporte obstétrico que a situação exige. Para exemplificar essa situação lastimável, o Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth, localizado em Boa Vista, não dispõe de nenhum leito de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) para socorrer mulheres grávidas. Este hospital é a única maternidade pública da capital de Roraima.
Essa falha injustificada na assistência da saúde da mulher – que já era precarizada antes da pandemia – fez de Roraima o estado brasileiro com o maior percentual de mortes de gestantes e puérperas. Inadmissível.
A situação no Brasil é igualmente desoladora. Segundo o OOBr Covid-19 (Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19), 23% das mulheres que morreram de Covid-19 não tiveram acesso a leitos de UTI, e 33% nem chegaram a ser intubadas.
É nesse cenário que a chegada do Enrico – e seus anticorpos – trazem luz ao negacionismo, e esperança para as futuras mães, atormentadas com a letalidade de um vírus e a letargia governamental.
A vacinação prioritária para todas as gestantes, puérperas e lactantes, e não apenas para aquelas com comorbidades, se faz urgente.
O Solidariedade apoia e defende essa medida. Em Roraima, solicitei ao governo que esse grupo de mulheres fosse imunizado antes mesmo do Ministério da Saúde decidir vacinar as gestantes com comorbidades.
Sob minha presidência, a Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Roraima vai inspecionar as instalações físicas, insumos e profissionais que atuam no atendimento às mulheres, com o objetivo de frear a morte materna no nosso estado.
A vacinação em massa, aliada ao fortalecimento da rede de assistência básica e hospitalar é a nossa única saída. O Brasil já é o país com mais mortes de gestantes pela Covid-19. Ainda dá tempo de evitar uma geração de órfãos do vírus do descaso e da negligência!
Yonny Pedroso é psicóloga, deputada estadual pelo Solidariedade em Roraima e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Roraima. É também ativista pelo parto humanizado e tem ações voltadas para a redução da mortalidade materna em seu estado.