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Ciência e Tecnologia 08/07/2021

A importância da destinação de recursos para as pesquisas científicas

Flávio Nogueira
Flávio Nogueira
Presidente do Conselho de Ética nacional do Solidariedade
A importância da destinação de recursos para as pesquisas científicas
Foto: Agência Brasil

O dia 26 de fevereiro de 2020, conforme a Sociedade Brasileira de Infectologia, foi o dia do primeiro caso confirmado de COVID-19 no Brasil.[1] De lá para cá, o governo, as instituições e a sociedade brasileira em geral passaram a discutir todos os tipos de tratamentos, curas e como as vacinas são fabricadas. A pesquisa científica passou a ser vista como essencial, a tão esperada vacina é prova  da necessidade do investimento em projetos de pesquisa científica e tecnológica.

O debate sobre a importância da pesquisa científica saiu do campo acadêmico, do seio das universidades e ganhou as ruas. Toda a sociedade brasileira passou a falar sobre termos científicos, principalmente em 2020 quando da criação das vacinas. O assunto, ainda que indiretamente, passou a fazer parte de todo bate papo, por mais simples que fosse. Quem não discutiu nos últimos tempos sobre comprovação científica, ou sobre o estudo de uma droga para prevenção ou cura da doença, ou mesmo sobre a taxa de eficácia de uma vacina?

A pesquisa científica nunca foi tão exaltada como aconteceu nos dois últimos anos. Os países mundo afora passaram a investir bastante não só na busca pela cura e pela vacina do COVID-19, mas também em empresas relacionadas e projetos de pesquisa e desenvolvimento.[2] 

Diferentemente, no Brasil, é correto afirmar que “A ciência nunca esteve tão em evidência como agora, mas, por outro lado, jamais havia sido tão esnobada por governantes e uma parcela da população que preferem relativizar a gravidade da crise sanitária mundial.”[3]

Apesar de toda essa crise gerada pela pandemia, por que o Brasil ainda não acordou para o investimento em projetos de pesquisa e inovação? O Brasil é um berço de pesquisadores, existem várias universidades de ponta. Então, o que justifica diminuir os recursos para com as Universidades, bolsas de pesquisas, etc.

Os jovens pesquisadores devem ser incentivados pelo Governo a ficarem no Brasil, não a ir embora. Para se ter uma ideia, desde 2013 as bolsas para pesquisadores e estudantes de mestrado e doutorado não tem atualização no país.[4]

Buscar parcerias com a iniciativa privada não pode ser a única solução. Os países mais desenvolvidos do mundo investem nos centros onde se encontram grande parte das principais pesquisas de inovação, as Universidades.

Os EUA, apesar de ser um país que recebe bastante incentivo financeiro da rede privada em suas universidades, grande parte dos investimentos em pesquisa vem do governo. Recursos públicos são responsáveis, nos países desenvolvidos, pela maior parte do financiamento de Universidades e de outras instituições de pesquisas, 60% nos EUA, na Europa é 77%.[5] 

Como está o Brasil? Bem, nos últimos anos houve um declínio muito grande com os gastos em pesquisas científicas. Senão, vejamos:

A disparidade do que é gasto, tanto em porcentagem do PIB, como também em valores absolutos é muito discrepante entre os países mais desenvolvidos e o Brasil.  Se tomarmos como base 2018, ou seja, antes da pandemia, os EUA e a China juntos investiram mais de US$ 700 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. OS “EUA aplicaram US$ 476,5 bilhões e a China (que não para de crescer), US$ 370,6 bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).”[6]

A  Coreia do Sul, país hoje que é referência em tecnologia, como pode ser observado acima do gráfico, investe boa porcentagem de seu PIB em pesquisa científica. Em 2018 aplicou o equivalente a US$ 73,2 bilhões.

Deve ser lembrado que para se ter bons pesquisadores deve se ter uma boa base educacional.  Apesar de grande parte das pesquisas iniciarem principalmente nas Universidades, a base vem do ensino médio e fundamental. Nesse contexto, o Brasil também vem retroagindo, retirando investimento da educação.

Para 2021, o orçamento elaborado ao FNDCT tem um corte de 4,8 bilhões de reais; para o CNPq, de 8,3%, no qual o fomento à pesquisa é de apenas 22 milhões de reais, 18% do valor destinado em 2019; já a Capes, 1,2 bilhões.[7] Quais são as prioridades do governo brasileiro, onde quer chegar?  

Se o Brasil continuar abandonando o investimento em ensino e em pesquisa de tecnologia, nunca se tornará um país rico. Há somente uma solução, mudar as prioridades do governo. “As grandes nações investem em ciência e tecnologia, não por serem ricas, mas são ricas porque investem em ciência e tecnologia”.[8]