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Pessoas com Deficiência 02/04/2022

Inclusão de verdade

Claudio Janta
Claudio Janta
Presidente do Solidariedade (RS) e vereador em Porto Alegre
Inclusão de verdade
Imagem: iStock

Desde 2007, com o estabelecimento do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado neste 2 de abril, a luta por mais respeito, inclusão e acessibilidade para aqueles que convivem com o TEA (Transtorno do Espectro Autista), começou a ganhar mais evidência ao redor do mundo.

O conceito de inclusão vai muito além daquilo que está descrito no dicionário, muitos não entendem o seu real significado e a importância desta palavra. Existem muitas formas de convivermos em sociedade: excluindo alguns grupos, criando segregações daqueles que consideramos diferentes, proporcionando momentos de integração entre os grupos, ou realmente incluindo TODOS sem distinção e com espaços acessíveis e preparados.  Por isso, o desafio da inclusão ainda tem muitos passos para ser conquistado.

Quando falamos nos direitos dos autistas no Brasil, sabemos que são assegurados por leis como a Berenice Piana e a LBI (Lei Brasileira de Inclusão). Ambas consideram aqueles que possuem o diagnóstico de autismo como pessoas com deficiência, ou seja, todos os direitos garantidos aos PCD’s também são válidos para os autistas. Infelizmente, sabemos que na prática a aplicação quase não acontece. Essa parcela da população ainda é negligenciada em diversas áreas e quando conseguem, muitas vezes judicialmente, garantir o que está no papel o serviço prestado não atende às suas necessidades, pois faltam profissionais qualificados.

As dificuldades e os relatos das famílias que convivem com o TEA são recortes de uma realidade dura. Uma luta diária por mais espaço, atenção, inclusão de verdade, direitos garantidos e não apenas escritos em papéis, e por profissionais adequados para lidar com seus filhos. Embora seu caminho seja cheio de negações, eles não desistem! Esse sentimento é capaz de despertar um grande poder de mobilização e de transformar a causa numa bandeira que merece ser defendida com paixão. É este o termo que costumo utilizar para descrever o trabalho que desenvolvemos nessa pauta.

O difícil acesso a terapias, falta de atividades complementares ao ambiente escolar e a pouca atenção dedicada às famílias estão entre as dificuldades levantadas por quem convive com o autismo. Esses relatos trazidos por autistas e seus familiares revelaram uma grande necessidade: o estabelecimento de um espaço físico dedicado a estas demandas. Constituir um serviço público, com acesso gratuito às múltiplas terapias e atividades que auxiliam no desenvolvimento da pessoa com TEA tem levado à reivindicação de Centros de Referência do Autismo. Além disso, a necessidade de um diagnóstico rápido e claro também acende o alerta para um espaço especializado nestes laudos, que são uma garantia para o acesso as terapias.

Mas essa não tem sido uma luta fácil, ainda existe pouco conhecimento sobre o autismo e pouco se fala sobre o transtorno. Para nós estes são mecanismos importantes visando mais inclusão, auxílio e acolhimento, não somente para o autista, mas também para suas famílias. Nosso maior desejo é que todos tenham espaço na sociedade podendo ter o seu direito a educação, saúde, emprego e renda, por isso neste momento de conscientização do autismo é importante que seja dada visibilidade às diferenças.  A inclusão de verdade ainda é um grande desafio que precisa ser transposto com a luta diária pelo direito de igualdade e com a quebra de muitos paradigmas na nossa sociedade. Mudar o olhar sobre a inclusão é o primeiro passo para que as mudanças necessárias aconteçam!