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Belém e o grito da Terra
A COP de Belém se aproxima, e sua importância, para mim, vai muito além da diplomacia e dos protocolos ambientais. O simples fato de líderes mundiais se disporem a se reunir, apesar dos negacionistas de plantão, já é um sinal de que o planeta ainda tem voz. E essa voz, hoje, soa como um grito, o grito da Terra pedindo socorro.
Os eventos climáticos extremos não são mais previsões de cientistas: estão acontecendo diante dos nossos olhos. Enchentes, secas prolongadas, ondas de calor, pragas que se multiplicam, desertos que avançam sobre áreas férteis. Tudo isso altera a vida das pessoas e corrói a base das cadeias produtivas que sustentam a economia global. O resultado é um ciclo perverso: perda da qualidade de vida, empobrecimento e desigualdade.
Mas há um detalhe que nem sempre ganha manchete, o impacto silencioso na saúde pública. À medida que o ar piora, as águas se esgotam e o calor se intensifica, crescem também as filas nos hospitais. Doenças respiratórias, transtornos mentais e infecções se tornam mais frequentes. Os custos da saúde disparam, e os sistemas, já frágeis, entram em colapso. Não é exagero dizer que, se continuarmos assim, abriremos as portas para uma nova pandemia.
Por isso, a luta pelo controle da temperatura global não é um capricho de ambientalistas. É uma luta pela sobrevivência. Precisamos frear as emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição para energias limpas, solar, eólica, térmica, o que for capaz de devolver algum equilíbrio a esse organismo vivo que é o planeta.
Gosto de pensar na Terra como uma nave-mãe, o grande útero que nos abriga e nos alimenta. E é dela que vem a lembrança mais antiga de todas: somos feitos do mesmo pó, filhos de uma mesma casa. Se o planeta adoece, nós adoecemos com ele. Que a COP de Belém seja, então, mais do que um encontro, que seja o início de uma ação. Que assim seja, e, mais do que isso, que assim ajamos.