Artigos
Dia da Consciência Negra e atuação partidária e militante para combate ao racismo
O Dia da Consciência Negra é sempre um dia para parar e analisar a realidade para onde estamos indo, refletir e continuar atuando para superar o tema do racismo. Embora já tenha passado mais de 130 anos da libertação dos povos negros que foram escravizados no país. A terrível herança decorrente dos 300 anos deste modo de produção econômico que sustentou o Brasil, ainda reflete tristemente nos dias atuais. Nesse contexto cabe a pergunta sobre a função partidária, o papel de um dirigente e de um militante, no que se refere a como atuar para equacionar o problema do racismo, a fim de que este não mais subsista em nenhuma de suas expressões.
Há quem diga que “ser pedagogo para o povo”, é uma importante função dos partidos e dos líderes políticos, no entanto, infelizmente, em razão de fatores históricos e culturais, o cenário político atual tem servido de palco para políticos vulgares e partidos de aluguel sem compromisso real com as dificuldades enfrentadas pelos cidadãos, especialmente os mais necessitados.
Soma-se a polarização e se tem em vista a regressão no debate de ideias acerca dos problemas centrais do país, tal como o que causa/causou racismo. Debates rasos sobre questões secundárias, verdadeiras cortinas de fumaça, são pautadas, como por exemplo as ideias defendidas por negacionistas da ciência ou o debate sobre o identitarismo num nível vulgar predominam em detrimento do que se deveria pautar.
Dessa maneira, cabe ao partido, aos líderes que representam a população, promover a conciliação da política com a verdade e trazer luz ao debate. Sem teorizar as causas do racismo, no entanto, discuti-lo de modo ordenado e não apenas propondo soluções com base em experiências empíricas, de modo a voltar a apostar num pragmatismo sem resultados, desprezando o conhecimento. A crise econômica, social e política é um dado que não podemos se aprofunda e, neste contexto, o racismo é outro elemento estruturante de nossa sociabilidade que não pode mais esperar para ser solucionado em definitivo.
Para além da conscientização no campo da linguagem – que muito diz sobre as mazelas de nossa herança cultural racista, com expressões criadas naquele contexto vergonhoso de escravidão e infelizmente repetidos ainda, tais como “a coisa tá preta”, “denegrir”, “cabelo ruim”, “preto de alma branca”, “ovelha negra”, “mercado negro”, “crioulo” etc, é preciso avançar no processo em outras conquistas civilizatórias, demonstrando no debate público a importância de transformarmos a realidade material que sustenta o campo estético da linguagem e cria as condições objetivas e subjetivas para o racismo se perpetuar ainda que veladamente, ou seja, deve ser agenda contínua num partido político e na atuação concreta de seus dirigentes e militantes a luta pela redução da desigualdade mediante a promoção de reformas estruturantes, tais como da terra e urbanização que possa reverter o processo de favelização mediante fundamentos que levam em conta o fato de ter sido negado aos negros o acesso à terra historicamente.
Importante frisar que o partido político ainda é um dos melhores instrumentos sem o qual será muito mais difícil dar fim a esta chaga tão cruel e que também nos condena ao subdesenvolvimento, afinal, por mais que possa estar em descrédito, a humanidade ainda não inventou outros mecanismos para levar a cabo projetos de transformação mais substanciais.
Compete aos partidos e a seus militantes ter a percepção – habilidade talvez impossível de ser adquirida sem estudo e interpretação sistemática da realidade concreta brasileira – para canalizar este sentimento por vezes difuso de indignação da população e propor uma direção objetiva, um projeto que combata a discriminação, afinal o racismo integra e perpetua o paraíso de poucos ao custo do inferno de muitos.
Noutras palavras, sem a inclusão do negro, sem este ser visto como parte da solução para o crescimento, desenvolvimento e superação da dependência econômica perante os demais países centrais, como já teorizaram nossos intelectuais, o país não terá condições de se autodeterminar e, assim, cumprir os objetivos desenhados pela nossa bela Constituição Federal de construir uma sociedade justa, harmônica e livre de quaisquer preconceitos.
Neste contexto, cabe ao líder político, dentro de seu partido, em suas estruturas, tais como secretarias criadas com este fim, nas instituições em que atua, junto à mídia, nas fábricas, nas escolas e demais espaços coletivos apropriados, fomentar a discussão, a atuação concreta com os demais militantes, visando promover uma agenda contínua em torno de um projeto de país, no qual, o povo brasileiro que em sua maioria é negra seja protagonista. Caminhando nessa direção, será uma questão de tempo cuja duração dependerá da capacidade da organização partidária agregar um número cada vez maior de pessoas, para a cura definitiva desta ferida exposta do racismo.
Edson Strogulski, vereador por Porto Alegre, secretário estadual da Igualdade Social do Solidariedade (RS) e Conselheiro Tutelar