Artigos
Consciência Negra, LGBTQIA+ e dia Mundial de Combate à Aids
Novembro é o mês alusivo à consciência negra, a data marca a memória histórica da trajetória de luta de um povo que, tem em suas origens, a garra e a resistência. A resistência podemos considerar como principal fator mantenedor da raça no mundo, afinal com tudo que foi travado contra o povo negro, se não fosse a resistência, a raça não teria mais sua existência no mundo.
Foi graças a resistência, as lutas e aos grandes personagens ativistas da história que o povo negro não desistiu e manteve sua sobrevivência durante um período em que era quase impossível fazer algo para mudar, visto que os comportamentos negativos adotados em relação ao negro eram, na época, do consenso de todos, de que o povo negro havia nascido para aquele fim, o de servir, o de sofrer, e não cabia- lhes a fala, nem o direito a contestar qualquer ação ou atitude que viesse de seus “superiores”, pois, o menor sinal de resistência demonstrado poderia levá-los a morte ou a condições ainda mais degradantes, como o sofrimento de violência e maus tratos.
A vontade humana dos que comandavam o Brasil por volta dos séculos XVI a XIX, em nossa análise não poderia ser outra, a não ser a de suprimir raças que consideravam inferiores e que os mesmos mereciam a morte ou a escravidão por terem nascidos negros, estavam fadados a esse fim.
A única consciência que prevalecia na época era: que se exterminassem todos os negros, quem faria o papel desempenhado por eles? Os serviços que prestavam sob o regime de escravidão, seria desempenhado por quem? Essas são perguntas que nos fazem refletir sobre as atitudes e comportamentos adotados, que o inconsciente falou mais alto, ou seja, era adotado o irracionalismo, a indiferença e todos os termos e palavras negativas iniciadas pela letra “i”, lembramos da impunidade em que esses “donos das terras e das vidas”, da intolerância, e porque não falar da impureza do ser, e o único “i” que não conseguia se sobrepor a todos esses “Is” era o “i” de impugnação destes atos, pois, qualquer um que tentasse ir contra os ditames da época, era no mínimo torturado ou morto.
Então quando falamos em consciência, nos parece que é um termo novo no vocabulário, que é uma novidade, um novo conceito, até parece que faz pouco tempo que está presente em nossa humanidade e pouco praticada ainda. A consciência durante o período escravagista não existia, assim como, não existia liberdade para quem nascia com o tom de pele negra. Tendo em vista essa situação histórica, o direito à liberdade foi cerceado de forma absurda e desumana, uma vez que além de serem submetidos a situações degradantes e insalubres, os negros eram condicionados a viver assim, sem outra alternativa, jamais poderiam contestar, sob pena de ser aumentado seu sofrimento, sob pena de serem postos em situações desonrosas, vergonhosas ou de assistirem seus entes, seus pares sendo humilhados e mortos.
Vemos ainda hoje, apesar dos avanços sociais e das políticas públicas orientadas nesse tema, algumas pessoas se perguntando: porque temos o dia da consciência negra? Em nossa análise e respondendo à pergunta, podemos afirmar que a necessidade de termos uma data, um dia, um mês para refletir sobre a consciência negra é muito pouco, tendo em vista o prolongado período secular da desconsideração da raça negra, é muito pouco, mais muito pouco mesmo.
A humanidade precisa internalizar essa consciência nos 365 dias do ano, para que jamais seja esquecido, ou questionado o porquê da existência de um dia específico para a consciência. Consciência, nesse contexto, é o ato de reconhecer que existe somente uma raça, a raça humana, é o ato de pensarmos e reconhecermos a história do negro e como chegaram até aqui, sem esquecer das raízes e das lutas travadas ao longo da história, valorizando todas as contribuições trazidas, desde a culinária, a música, as religiões afro, entre tantas contribuições importantes para a cultura.
Quando falamos em cometimento de atos de preconceito e discriminação neste século, percebemos que muitos precisam acordar, pois nos parece que estão dormindo, ou que estão vivendo inseridos naquele mundo antigo e que esse mundo infelizmente parece que está dentro de alguns, parece que não pertencem a esta era, a raça humana.
Precisamos resgatar a consciência negra, sempre, no sentido mais amplo, buscando na empatia e no humanismo os conceitos e os valores necessários para entender que se não foi comigo, poderia ter sido, e será que eu gostaria de ter vivenciado?
Como reagiríamos se fosse ao contrário? É preciso desconstruir esse preconceito ultrapassado de condutas desumanas ao longo da história, uma vez que, são péssimos exemplos de uma humanidade não evoluída e que não entendeu o propósito da vida, o propósito de ser, não apenas de existir, mas de sentir que nós todos habitamos o mesmo lugar, e ter a consciência que nossos sonhos pessoais podem ser diferentes e nos levar a lugares diferentes, mas nunca podem ser maiores do que a busca pela paz e igualdade social. Como diz Martin Luther king: “ Eu tenho um sonho, que os negros e os brancos andassem em irmandade e sentassem-se na mesma mesa em paz”.
Que essa frase desse personagem tão importante, possa ser constante na humanidade. Nossa constituição federal datada de 1988, reafirma em seu texto, nos artigos 5º e incisos seguintes, sobre os direitos fundamentais e de liberdade, o que contribuiu para que evoluíssemos um pouco, enquanto sociedade, porém ainda é precário, uma vez que não garante em sua totalidade, o fiel cumprimento, restando para os legisladores, no caso os agentes políticos e do judiciário, a obrigação de fazer cumprir, de exigir, de incluir e de combater irregularidades e atos praticados contra as pessoas.
Ao cidadão cabe o direito de cobrar essas ações, a mudança ou inclusão no legislativo de projetos de lei que possam abranger a proteção a todos, por isso, o partido Solidariedade convida todos a fazer parte dessa consciência e convida a todos que tem esse mesmo sonho, a realizarmos juntos, através das ações e projetos de conscientização, da construção de projetos de lei e implementação voltados para o propósito maior, o restabelecimento da paz social, o respeito e o amor pelo próximo. Somos todos iguais, somos Solidariedade.
Como Solidariedade, em expressiva posse de sua composição, temos compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas. Dessa forma, cabe aqui, um adendo também às pessoas que não são percebidas pela sociedade, em suas mínimas condições dignas e básicas procedentes, como as com comorbidades norteadas pela baixa imunidade: doenças autoimunes, doenças raras, portadores de HIV, população LGBTQIA+, população em geral, indígenas e ciganos. Assim relacionando a temática da questão racial e do público LGBTQIA+ podemos compreender o quanto é difícil, se pararmos para pensar que uma pessoa que possa pertencer a raça negra, seja parte integrante do público LGBTQIA+ e ainda seja portador de HIV ou da doença desenvolvida na sua mais alta gravidade. Imaginem o triplo preconceito instalado e sofrido.
Aos olhos de uma sociedade que em sua grande parte discrimina e condena, o fato de ser negro já não é um fardo leve diante da intolerância e desrespeito, diante do racismo estrutural, logo ser um LGBTQIA+ confere excessiva carga de preconceito, como se esse indivíduo fosse um estranho, um alienígena e se considerarmos que haja a presença de uma doença como o HIV, poderíamos dizer que seria considerado descartado, digo no sentido mais amplo da palavra, estaria essa pessoa fadada ao isolamento social, ao anonimato, ou ainda assumiria a invisibilidade intrínseca da condição de assumir publicamente características indesejadas pelo prospecto de ser humano padrão e perfeito idealizado pela sociedade conservadora.
É de suma importância refletir que o HIV e a AIDS são adquiridas por qualquer ser humano, esteja ele em condição hétero, homossexual ou qualquer outra identidade de gênero e tipo de prática sexual adotada. A Aids não escolhe as pessoas, ela infelizmente acomete ainda muitas pessoas que estão sucetíveis em sua grande maioria, em situações de imunidade baixa, em condições econômicas desfavoráveis, pessoas que já possuem algum tipo de doença sexualmente transmissíveil, uma porta de entrada para o vírus. Muitas pessoas não sabem que estão positivas com o vírus e acabam transmitindo a outros devido as práticas sexuais inseguras, como o não uso do preservativo, por exemplo.
Hoje em dia não se pode falar em grupo de risco, já que todos estão expostos, sejam pessoas que mantém suas relações com um único parceiro ou aqueles que mantém relacionamentos com vários parceiros. Dizer que existe um grupo de risco específico, como atribuído ao grupo LGBTQIA+, vem a ser um ato preconceituoso e discriminatório, como se o HIV fosse uma doença específica do referido público.
Existe sim, comportamentos de risco, e esse pode ser adotado por qualquer individuo, independente da sua prática sexual, da sua orientação sexual. O maior preconceito está no fato de considerar que alguém possa estar livre de adquirir o vírus do HIV. O fato de haver um número maior de portadores de HIV entre o público LGBTQIA+, não significa que existe uma tendência maior ou uma pré disposição para adquirir ou transmitir.
Na realidade o público LGBTQIA+ em sua grande parte sofre os efeitos sociais da discriminação, do desemprego e das condições precárias que muitos vivem. Muitos acabam se direcionando para as drogas e para a prostituição, condição em que se colocam em risco, por vezes adquirindo a doença e muitos sequer sabem que estão positivados e quando se dão conta de que estão doentes procuram as unidades de saúde e muitos acabam perdendo para o vírus que já se alastrou no organismo de forma devastadora.
O HIV quando detectado logo no início pode ser combatido, com os coqueteis antivirais que ajudam a reduzir a presença do vírus no sangue, por vezes, em alguns casos, consegue-se inclusive zerar nos resultados laboratoriais subsequentes a novos exames pós tratamento. Acreditamos que um dos motivos que proliferou ainda mais a AIDS no Brasil, foi a sensação de que o coquetel seria a cura para os que já estavam portando o virus, na adoção do tratamento logo no início e também temos o tratamento de profilaxia, chamado PREP (Profilaxia, pré-exposição), que são combinações de retrovirais que auxiliam como coadjuvantes no combate ao vírus HIV, em situações em que a pessoa possa estar exposta, como exemplo: logo após ter tido uma relação com algum portador de HIV, ou exposição com equipamentos perfurocortantes, como agulhas, entre outros de superfície contaminados.
O PREP, medicação para bloquear o HIV no organismo, era distribuído nos postos de saúde até o ano de 2019 para pessoas cadastradas que durante a entrevista com equipe médica e de enfermagem, se identificavam como pessoa que não usava preservativo e que mantinham relacionamentos múltiplos. O PREP então era entregue para todos, héteros, homossexuais e todos que se enquadravam na situação de risco, afim de evitar a proliferação do vírus, porém ele por si só não é garantia de que ao ingerir o PREP a pessoa estará 100% segura, devido a inúmera variedade mutacionais do vírus.
Devemos considerar para o presente artigo, dados científicos registrados pela UNAIDS BRASIL no ano de 2020, 37,6 milhões de pessoas estavam convivendo com HIV no mundo. Nesse mesmo ano 1,5 milhões foram infectadas e 690 mil pessoas morreram de doenças oportunistas relacionadas a AIDS.
Com o advento da pandemia do coronavírus houve um avanço ainda maior e os dados que estão sendo coletados a respeito do ano de 2021, que ainda não foram finalizados, certamente irão nos surpreender, até porque a COVID-19 tirou o foco das outras epidemias como o HIV por ser um novo vírus e que pouco se sabia a respeito dele. Durante a pandemia da COVID-19 muitas pessoas abandonaram seus tratamentos e acabaram se descuidando por acreditar que o HIV não seria então o maior vilão do mundo. Esse é um grande problema, quando surgem novos vírus no mundo a comunidade cientifíca passa a se dedicar exclusivamente ao novo, parando muitas vezes com as pesquisas e testes voltados a cura de outras doenças. Através deste artigo orientamos a todos leitores que façam o teste do HIV, independente da sua orientação sexual, proteja-se e proteja aos outros.
Vamos dizer não ao preconceito e a discriminação para com aqueles que possuem a doença. Um portador de HIV pode viver muitos anos mediante o tratamento adequado pode ser encontrado nas Unidades Básicas de Saúde de todo Brasil. Assim como o teste que é gratuíto, as equipes de saúde tem todo cuidado, sigilo e ética com os pacientes, de forma que todos os pacientes podem ficar tranquilos com o resguardo das informações, eles não serão expostos, nem identificados em qualquer meio publicitário.
Para realização do exame basta procurar uma das unidades de saúde do SUS e solicitar o teste, além do teste rápido que é supervonfiável, há outros exames que detectam os níveis do avanço do vírus no organismo. Vamos dizer não a ignorância e sim a vida.
Se não somos nós a fazer algo diferente, promissor, construtivo e edificante constituindo o direito cidadão, de direitos universais e constituinte, quem os fará? E ainda com que base ética, política, cívica, moral poderemos levantar qualquer “bandeira” se quando temos a caneta nas mãos não a usamos para aliar poder, ação, razão e coração, num patamar necessário, urgente e intransferível de quem pode e deve fazer o melhor e já?
Somos responsáveis pelo que dizemos e principalmente pelo que fazemos. Com nossas atitudes deixamos nossa marca na história para os nossos descendentes. Sejamos solidariedade em todos os sentidos, dando valor a vida, as pessoas e ao que de melhor possamos fazer para e por ela. O Solidariedade está de portas abertas para todos e unindo forças poderemos ir além. Contribua você também como um agente social responsável pela nossa sociedade. Nossa maior bandeira é o nosso povo. Viva a solidariedade e viva o Solidariedade!