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Amamentação: desafios e avanços em prol da vida e da saúde infantil
Quando falamos em qualidade de vida das crianças, sobretudo com relação aos primeiros meses após o nascimento, a importância do aleitamento materno é um dos principais temas. Não por acaso, desde 1992, celebramos em 1º de agosto o Dia Mundial da Amamentação, cujo objetivo é promover a prática, conscientizar a sociedade e estimular a criação de bancos de leite humano. A data integra a Semana Mundial de Aleitamento Materno, que ocorre anualmente até 7 de agosto, em cerca de 120 países.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, os índices de amamentação seguem em alta. O Enani (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil), realizado de fevereiro de 2019 a março de 2020, mostrou que o aleitamento materno exclusivo de crianças menores de seis meses cresceu 16 vezes nos últimos 34 anos. Em relação à amamentação continuada, ou seja, até os dois anos de idade, o aumento foi de 23 vezes. A saúde dos bebês e das mães agradece. Afinal, o ato pode reduzir em até 13% a mortalidade infantil por causas evitáveis, e a cada ano que a mulher amamenta, o risco de desenvolver câncer de mama diminui em 6%.
Porém, apesar dos números positivos e dos benefícios do leite materno para a saúde e para o laço afetivo entre mães e filhos, ainda há muito em avançar. Não são raras, por exemplo, cenas de mulheres impedidas de amamentar em público. Em um dos casos mais recentes e divulgados pela mídia, no início de julho, agentes de segurança proibiram a prática na Disney de Paris. Dois dias depois, o parque de diversões se retratou e pediu desculpas. Em terras brasileiras, episódios como esse, infelizmente, também são muito comuns.
Esse é um debate que também precisa ser aprofundado no ambiente de trabalho. O assunto ainda é tabu em boa parte das empresas públicas e privadas do nosso país. Não é segredo para ninguém que mulheres no período de aleitamento costumam ser constrangidas e injustamente cobradas e punidas pelo simples fato de precisarem se ausentar para amamentar seus bebês. Essa é a regra. Exceções, sempre muito bem-vindas, são de iniciativas no sentido de fornecer todas as condições para esse momento íntimo e tão importante.
No Congresso Nacional, há vários projetos de lei que buscam assegurar o direito de lactantes e lactentes. Um deles é o PL 1654/2019, que tramita na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados e pode ir em breve ao plenário. De acordo com o texto, que reúne outras 11 propostas apensadas, os espaços públicos e privados de uso coletivo, incluindo ambientes laborais, terão que disponibilizar locais para amamentação, cabendo à mulher a decisão de usá-los ou não. Fica vedado, ainda, qualquer tipo de constrangimento, repressão ou restrição.
E é claro que neste momento difícil que enfrentamos, um capítulo à parte é o dos impactos da pandemia da Covid-19. As dúvidas e inseguranças fizeram inúmeras mães questionarem e até paralisarem o aleitamento. Mas, segundo estudos recentes, o coronavírus não é transmitido através do leite, caso a mulher esteja infectada. Por isso, a amamentação deve ser mantida, bem como os cuidados recomendados para todos: uso de máscara, higienização adequada e evitar locais com aglomeração. Aliás, se você conhece alguma mãe insegura quanto a isso, repasse essas informações para tranquilizá-la.
O que temos, portanto, é um cenário que merece ser celebrado em mais um 1º de agosto, Dia Mundial da Amamentação. A importância do ato é unanimidade, mas há obstáculos a serem superados para a plena garantia desse direito das mulheres e das crianças. Estimular, cobrar e promover informação, conscientização, iniciativas e políticas públicas nesse sentido é um dever de todos nós. Afinal, para os bebês leite materno é muito mais que alimento. É vida!