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Criança deve ser ‘armada’ com educação e ‘munida’ com amor
Relatos da Guerra nos mostram que na Ucrânia, país que está em guerra contra a Rússia, se tornou corriqueiro o treinamento e uso de armas feito por crianças e adolescentes. Esses menores têm aprendido a carregar, montar, desmontar e atirar com as mais variadas armas, além de produzirem bombas, coquetéis molotovs e lançar granadas.
No entanto, sabemos que a última coisa que uma criança deveria aprender é conviver com esse tipo de experiência e lidar com armas, afinal, de acordo com o artigo 16 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), é direito da criança brincar, praticar esportes e se divertir, e consequentemente, a venda e ou fornecimento de armas de fogo, munição ou explosivo a menores se caracteriza como crime, com pena de reclusão de três a seis anos (Lei 10.826/2003).
Como é direito da criança brincar, nossos menores foram ensinados a brincar de bandido e mocinho, com armas de plástico, sem munição, simulando serem os detentores da justiça e punindo aquele que “infringissem a sua lei”, no entanto, a conscientização de que armas (mesmo as de brinquedo) são nocivas as crianças é sabido por todos, por isso, em 2001 foi criado o Dia do Desarmamento Infantil, com intenção de conscientizar as crianças a não brincarem com essas réplicas plásticas e também com os videogames relacionados a armas.
Para Anamelka Cadena, secretária do Solidariedade Mulher (PI) e Delegada de Polícia, destinar um dia para conscientizar e promover campanha em favor do desarmamento infantil se faz necessário, pois a menção a data tem o propósito não apenas de desarmar, mas também de conscientizar a população sobre o uso de armas por crianças. “Mesmo que não sejam reais, o desestimulo as armas de brinquedos contribui como uma forma de evitar a violência, inclusive os incidentes domésticos ou em área escolar, onde alunos já tiraram a vida de colegas e professores”, ressalta.
A professora e gestora escolar, Hérica Alves, também acredita ser necessário destinar um dia para conscientizar toda a sociedade: “É importante termos esse momento dentro da escola para mostrar para a comunidade a importância de brincadeiras saudáveis e orientar que as brincadeiras que utilizam armas como objeto de diversão, ou brinquedos que estimulam a violência, gera nas crianças um instinto de agressividade, que muitas vezes, não é levado em consideração pelos pais e família. O incentivo dessa violência camuflada traz consequências futuras para aquela comunidade e, principalmente, para essas famílias que muitas vezes deixam essas situações de violência em forma de brincadeiras passarem desapercebidas”, afirma Hérica.
Proibir ou não armas de brinquedo?
Conforme o Estatuto do Desarmamento, o controle de armas de fogo é uma política pública que busca a redução da circulação de armamento, estabelece requisitos ao porte e caracteriza como crime, sujeito à pena, o uso irregular de armas, sendo assim, de acordo com o Estatuto, o uso de brinquedos em forma de armas pode influenciar nas ações futuras das crianças.
A delegada Anamelka diz que a desconstrução de práticas culturais que estimulam a violência é bastante positiva e se faz necessária coibir o uso de brinquedos que internalizam a cultura do medo e da agressividade, principalmente no período de desenvolvimento da personalidade da criança.
Brincadeiras violentas X adultos agressivos
Para ela, armas, mesmos as de plásticos não são brincadeiras saudáveis. “Acredito que seu uso de forma lúdica naturaliza a utilização de arma de fogo entre crianças, entendo que a utilização de armas, munições e dispositivos análogos deve acontecer com muita técnica, cautela e responsabilidade, fugindo absolutamente aos padrões de brincadeiras violentas”, pontua a delegada.
Neste quesito, os pais também tem papel fundamental na formação da personalidade de seus filhos e no incentivo ou não de determinadas brincadeiras, deve partir deles, já que os brinquedos, em sua maioria, são dados pelos próprios pais. “Os pais tem papel muito importante na formação das crianças, e é fundamental que eles entendam que determinadas situações e brincadeiras incentivam diretamente na formação da personalidade dessas crianças. Incentivar brincadeiras que favoreçam o uso da violência estimula comportamentos agressivos, portanto, brinquedos como armas, espadas acabam por banalizar situações que são de cunho violento e não podem passar como naturais”, argumenta a gestora escolar.
Já no ambiente escolar, mesmo antes que brincadeiras ou situações violentas aconteçam, deve haver no projeto político pedagógico ações que norteiam a violência como um fator a ser combatido pela sociedade. “O professor não pode simplesmente reprimir essa conduta, uma vez que devemos expor situações para que a criança compreenda a realidade em que está inserida e perceber que essas brincadeiras não são oportunas”, completa Hérica.
Sendo assim, o Dia do Desarmamento Infantil, não é apenas para incentivar o desuso de armas, mas sim para alavancar discussões sobre o tema e gerar na criança e no adulto a conscientização sobre o uso legal das armas, afinal só tirar o brinquedo das mãos das crianças não resolverá a violência na qual nos referimos e como sociedade, precisamos armar nossas crianças com educação, cultura e ciência e muni-las com muito amor, respeito e segurança.