Notícias
A luta por educação inclusiva
O Censo da Educação Básica de 2019 e 2020 apontou que o número de alunos matriculados nas redes de ensino tem crescido. Segundo a base de dados, em 2019 estavam matriculados 174.363 alunos deficientes e em 2020 esse número foi para 210.409, um aumento de 20%.
Em relação as pessoas nascidas especificamente com síndrome de Down (SD), de acordo com pesquisa realizada em 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, há aproximadamente 300 mil pessoas com a deficiência, ainda assim, o trabalho de inclusão na rede de ensino, mercado de trabalho e cotidiano ainda precisam ser melhor trabalhados em todo o país.
O cromossomo do amor
Uma alteração genética causada por um erro na divisão celular é a propulsora pela síndrome de Down. Em geral carregamos em nossa carga genética 46 cromossomos divididos em 23 pares e pessoas com SD nascem com três cromossomos 21, ao invés de apenas um, conhecido carinhosamente como o cromossomo do amor.
O excesso deste material genético faz com que a pessoa tenha algumas características específicas que são facilmente percebidas, entre elas, olhos puxados, rebaixamento do osso do nariz entre os olhos, dobra nas orelhas, pescoço baixo, pés e mãos pequenos, língua mais grossa, rosto arredondado e variáveis graus de comprometimento intelectual, no entanto, isso não torna a pessoa/criança com SD incapaz de frequentar as escolas ou qualquer outro ambiente social.
“A alteração cromossômica causada pela síndrome de Down provoca o atraso no desenvolvimento do indivíduo, no entanto, o fato de muitas pessoas acreditarem que a alteração se trata de uma doença, e não de uma alteração biológica, faz com que parte da população, erroneamente, em virtude da desinformação, segregue e discrimine os dows do convívio social, diz Jana Almeida, professora e neuropsicopedagoga.
Inclusão escolar
O artigo 27 da Lei Brasileira de Inclusão n° 13.146 de 6 de julho de 2015, diz em seu parágrafo único que é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação.
Para Márcia Buava, professora, psicopedagoga e neuropsicopedagoga, para que haja efetiva inclusão com a rede de ensino, se faz necessária a participação da família com a escola.
“Os pais precisam ter mais participação no ambiente escolar de seus filhos, isso inclui desde a construção do PPP (Projeto Político Pedagógico), onde poderão opinar, dialogar e auxiliar a construção de estratégias e metodologias adequadas para a inclusão dos alunos com deficiência, até a plena compreensão de que essa jornada escolar é para todos”, sinaliza Buava. Além disso, de acordo com ela, o tratamento no ambiente escolar com as crianças com SD não deve ser diferenciado e sim inclusivo, com equidade, pois estudar em um ambiente que valoriza a diversidade traz benefícios para todos os estudantes.
Dificuldades encontradas na rede de ensino
Trabalhar com inclusão é um desafio pedagógico, visto que a maior parte dos profissionais em educação não são informados e nem capacitados para lidar com essa nova realidade escolar. “Educadores precisam receber formação e informação sobre o tema, e isso inclui o ato de acolher, saber utilizar as referências e preferências do aluno com Down, trocar experiência com colegas de profissão e trabalhar empatia com o grupo escolar. Nossos educadores carecem de formações, informações e acolhimento referente ao assunto”, ressalta Buava.
“Após vinte anos, observamos poucos avanços em relação a educação inclusiva. Ainda se faz necessário adaptar as Instituições Educacionais para o acolhimento das singularidades da síndrome de Down, formação continuada dos profissionais de educação que atuam com esses estudantes e ampliação das equipes de apoio às aprendizagens com a presença constante de psicólogos, fisioterapeutas, pedagogos, neuropsicopedagogos, dentre outros. Também se faz necessária a formulação de políticas públicas que de fato contribuam para a real inclusão desses estudantes, com adaptação curricular e metodológica para atendimento das suas necessidades”, diz Jana Almeida.
Embora cada criança seja única, o perfil de aprendizagem do aluno com SD, em geral, é específico e possui características fortes e fracas, a depender de cada indivíduo. “Normalmente, as crianças com deficiência intelectual têm muita dificuldade no período da alfabetização e necessitam do currículo flexibilizado de acordo com suas habilidades. Os níveis de atenção e concentração são comprometidos, além de apresentarem complicações na compreensão de comandos, o que faz com que os educadores tenham a necessidade de ofertar mais atenção a estes alunos”, comenta a neuropsicopedagoga Buava.
Políticas públicas de inclusão
Carecemos de políticas públicas que beneficiem o indivíduo com síndrome de Down. Como sociedade, o primeiro passo é respeitarmos essas pessoas como qualquer outro ser humano, com os mesmos direitos que o restante da população, equiparando oportunidades no aprendizado escolar, emprego e na participação social, ainda assim, de acordo com Buava é preciso melhorarmos principalmente as políticas em relação a saúde, integração, educação e desenvolvimento social da pessoa com deficiência.
“Precisamos aumentar as equipes multifuncionais de saúde (neuropediatras, psiquiatras infantis, psicopedagogos, fonoaudiólogos e terapeutas), que lidam com os SD, preparando-as para avaliar, trabalhar, acompanhar e estimular a pessoa com deficiência”, diz.
“Precisamos de ações governamentais, campanhas e estratégias que informem a população e colaborem com a formação de atitudes não discriminatórias e inclusivas, principalmente, com a inserção desses indivíduos no ambiente escolar e mercado de trabalho”, pontua Jana Almeida.
Ainda de acordo com Buava, no campo educacional precisamos de políticas públicas que possibilitem o fornecimento de atendimento especializado com educadores preparados para flexibilizar e fazer a interação dos alunos com SD junto aos demais; políticas que forneçam materiais de aula estruturados, salas sensoriais e formação contínua para o grupo docente.
O Solidariedade luta para que não haja discriminação social, pela inclusão efetiva de todos e celebra o Dia Internacional da Síndrome de Down ressaltando a importância de conscientizar a sociedade sobre os direitos igualitários dessa parcela da população.
“A pessoa com síndrome de Down não precisa de cotas e sim de políticas públicas e projetos que fortaleçam seu vínculo com a escola, trabalho e sociedade”, finaliza Buava.