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O orgulho que incomoda
Em meio a tanta intolerância fomentada por extremistas em nosso país, a luta pelo respeito e o combate à homofobia se tornou ainda mais complexa. Se antes já não era fácil conviver com o desrespeito à diversidade, hoje, se tornou um desafio duplo. A comunidade LGBTQIA+ virou alvo de críticas cada vez maiores. Os números comprovam: os crimes por homofobia mais que dobraram, todavia, o registro deles é um outro desafio à parte.
Um sistema que se fortaleceu para dizer que não há homofobia, que somos todos metidos, festeiros, consumistas e que não existimos. Imprensa que não noticia ataques homofóbicos, fatos que passam batido e a população LGBTQIA+ segue tentando ser respeitada.
Em 1969, num bar de Nova Iorque, policiais foram atender uma denúncia de “conduta imoral”, quando chegaram ao local, não havia crime algum, apenas uma confraternização de gays e lésbicas. Naquela época, era comum prenderem homossexuais simplesmente por seus gostos sexuais, e o que era para ser uma “festa”, tornou-se um grande ato de prisões.
O conflito ocasionado naquele ano deu origem a protestos de gays, lésbicas e simpatizantes, e no ano seguinte (1º de julho de 1970), surge a primeira Parada do Orgulho Gay”. O manifesto ganhou forças e repercussão por todo o mundo, e em 1995, chegou também ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
Atualmente, a Parada do Orgulho Gay, que é a maior manifestação do mundo, necessita de segurança reforçada durante os protestos, afinal, são comuns ataques homofóbicos e de ódio durante a realização da passeata.
Então quando falamos de “orgulho gay”, a expressão se origina do encontro de gays e lésbicas de anos atrás que lutaram reagindo à prisão por apenas existirem.
O orgulho vem fortalecer o nosso direito de existir como qualquer outro cidadão. A palavra reforça que o público LGBTQIA+ pode e deve sair do armário sem envergonhar seus familiares ou qualquer outra pessoa, afinal, assim como qualquer outro cidadão nós existimos e estamos em toda a parte.
Por vergonha e o constante preconceito, muitos gays e lésbicas suicidam-se anualmente e não podemos permitir que isso continue acontecendo. É preciso valorizar este orgulho e mostrar que somos todos iguais, que todos temos direitos e deveres na sociedade, que o pagamento de impostos não faz distinção de gênero, raça, cor ou opção sexual.
Devido a pandemia, não houve “parada” em 2020 e possivelmente não haverá em 2021, o vírus mudou o sistema e isso também chegou a nós, então, é o momento de avaliarmos nosso movimento, nosso ativismo. Rever filmes, documentários, pesquisar histórias, encontrar amigos e ver a importância da realização das passeatas por todo Brasil.
Às vezes, no automático da vida, apenas tocamos o barco e não paramos para atracar âncora. Não paramos para avaliar nosso papel enquanto pertencentes ao movimento. “A parada gay virou carnaval? A parada gay perdeu o sentido?”.
Frases como essas foram ditas, plantadas na maioria das vezes por intolerantes, mas pensando além disso, qual o meu e o seu papel na sociedade em que vivemos? Se for preciso validar outros modelos de passeatas, faremos sim um carnaval gay.
Neste tempo, aproveite a pandemia para validar seu orgulho gay, seu papel enquanto cidadão. Depois que sofrer homofobia não espere flores do governo, e tão pouco das pessoas a sua volta. A rede de proteção que você imagina viver não passa de uma bolha mental cheia de máscaras e armários. Liberte-se e seja você, hoje e sempre!
Day Ramos é secretária de Igualdade Social do Solidariedade em Santa Catarina.
Colaboração: João Daniel