Artigos
Inteligência Artificial na Educação: entre a luz e a sombra
O tema que trago neste artigo certamente iria inspirar o nosso patrono da educação, Paulo Freire, a travar um acalorado debate. Como visionário que era, Freire já enxergava na tecnologia dos computadores pessoais lá da década de 90 uma ferramenta promissora de suporte pedagógico. Na visão do educador, os recursos tecnológicos poderiam ser adotados de forma a complementar o trabalho dos professores.
O futuro mostrou o quanto ele estava certo! Não só os PCs, mas a internet, a robótica, quadros interativos, e-books, equipamentos de realidade virtual e jogos eletrônicos educacionais têm causado uma verdadeira revolução nas salas de aula e fora delas.
Agora, é a inteligência artificial que brilha no horizonte da educação. A IA pode iluminar o conhecimento, tornando possível o ensino personalizado e adaptado ao perfil, habilidades e dificuldades de cada estudante. Com isso, tende a contribuir para democratizar o acesso ao conhecimento, reduzindo as desigualdades e ampliando as possibilidades de aprendizado.
Um exemplo do emprego da IA na educação é o sistema de tutoria inteligente, que utiliza algoritmos para monitorar o progresso do aluno e oferecer feedback personalizado e imediato, com base nas respostas e desempenho do estudante em tarefas específicas. Assim, o sistema identifica áreas em que o aluno está tendo dificuldades e oferece suporte direcionado, para ajudá-lo a superar esses entraves. Uma solução de inteligência artificial ainda pode recomendar leituras e exercícios adaptados ao nível de conhecimento e interesse do aluno, tornando o aprendizado mais engajador e eficiente.
No entanto, não podemos ignorar a sombra que essa luz projeta. Como todas as inovações, a inteligência artificial também traz ressalvas e preocupações. Neste caso, quanto a seu potencial ameaça à mesma aprendizagem que se propõe a impulsionar. Isso porque carrega em si um risco enorme de suprimir a autonomia do estudante e criar uma cultura de resposta automática e sem reflexão. Aplicativos como o ChatGPT, por exemplo, permitem desenvolver uma dissertação sobre qualquer assunto sem estudar ou pesquisar. Dessa forma, burla o percurso que os estudantes deveriam seguir para uma educação emancipadora, como defendia Paulo Freire.
Para ser transformador, o processo de ensino e aprendizagem precisa ser dialógico, crítico e reflexivo. A inteligência artificial tem que estar a serviço desse diálogo, e não o silenciar.
Apesar de seus indiscutíveis benefícios, a IA deve ser encarada com cautela. Não se trata jamais de negá-la ou proibi-la, claro, mas de garantir a utilização mais adequada dessa tecnologia dentro de uma estratégia pedagógica ampla.
Cabe ao Parlamento liderar esse debate. Por isso, diante das inquietações que o tema provoca, aprovei na Comissão de Educação da Câmara Federal um requerimento para a realização de audiência pública sobre os impactos do uso da inteligência artificial na formação das nossas alunas e alunos.
Que possamos, como educadores e estudantes, utilizar a IA com sabedoria e prudência, mantendo sempre vivo o diálogo crítico que nos ensina a pensar e a transformar o mundo. Que ela seja apenas uma ferramenta complementar, e nunca uma ameaça ao processo educacional. Que possamos sempre aprender uns com os outros, com a emoção e a criticidade que nenhum robô substitui.