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Diversidade 20/11/2021

Dia da Consciência Negra: números que comprovam a desigualdade

Dia da Consciência Negra: números que comprovam a desigualdade
Dados de diversos institutos provam que o acesso de pessoas negras a segurança, saúde e educação ainda é restrito. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

No Dia da Consciência Negra (20/11), surgem muitos argumentos de que deveria haver apenas a “consciência humana”, deixando de lado as diferenças que, na prática distanciam as pessoas negras de condições dignas de sobrevivência. Dados retirados de pesquisas recentes de diversas fontes ilustram como os negros no Brasil têm menos oportunidades que os brancos, ainda que a miscigenação brasileira seja tão exaltada. Sozinhos, os números não dizem nada. Mas juntos mostram que ainda há muito o que fazer para que a consciência negra seja constante e presente o ano todo.

“Não dá para falar em consciência humana enquanto pessoas negras não tiverem direitos iguais e sequer forem tratadas como humanas”

Djamila Ribeiro – filósofa, pesquisadora e escritora

De com a publicação “The Transatlantic Slave Trade Database” (Banco de dados do Comércio Transatlântico de Escravos), o Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados entre os anos 1501 e 1900: ao todo foram 4,86 milhões nesse período. Hoje, é a nação fora do continente africano com o maior número de pessoas negras do mundo, segundo o ‘Institute for Cultural Diplomacy’: são 112,7 milhões de pessoas, correspondendo a 55,8% da população brasileira. Mas essa maioria ainda leva desvantagem em quase todas as áreas, como saúde, segurança, educação, renda e mercado de trabalho.

Os números mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, dentre a população mais pobre do país, 75% é composta por negros, considerados os auto-declarados pardos e pretos. Já entre os 10% brasileiros mais ricos, eles são apenas 27%. A renda mensal média também demonstra grande disparidade. Enquanto brancos recebem R$ 2.884 por mês, negros ganham R$ 1.663, uma diferença de 73,4%.

Nas empresas pesquisadas pelo Instituto Insper em 2020, a distância também ficou evidente: um homem branco chega a ganhar até 159% mais que uma mulher negra para executar o mesmo trabalho. As pessoas de pele preta ou parda também ficam para trás nos espaços dessas empresas. Somente 4,7% dos altos cargos executivos são negros, segundo dados do Instituto Ethos.

No entanto, a pressão popular e o aumento da discussão sobre o racismo estrutural no país têm provocado ações de inserção dos negros em empresas – de acordo com pesquisa do Instituto Ethos, 40% delas afirmam ter metas para reduzir a desproporção de cargos gerenciais e executivos entre negros e brancos. E motivos não faltam. A consultoria Mckinsey comprovou pelo mundo que empresas com mais diversidade étnica em sua composição têm 35% mais chances de obter melhores resultados financeiros.

Acesso a direitos básicos

Quando se fala em condições mínimas para a vida, as pessoas pretas e pardas também são as que sofrem mais. No Brasil, os negros têm 2,6 vezes mais chances de serem assassinados – eles são 77% das vítimas de homicídio do país, segundo o Atlas da Violência 2021.

O acesso à saúde também é escasso, pois muito poucos têm como pagar por atendimento privado ou plano de saúde. Logo, eles são 73% dos atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e dentre eles 37,8% avaliam a própria saúde como regular, ruim ou muito ruim. As condições de moradia, consideradas importantes para a manutenção de uma vida saudável, também são piores para esse público: dentre as pessoas que vivem em locais precários, 38,7% são negros, enquanto 22,3% são brancos.

O caminho para ascenderem socialmente, que seria pela educação, também lhes é bloqueado. A taxa de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos é de 9,1%, enquanto entre brancos é de 3,9%. Na outra ponta, ainda com o sistema de cotas implementado há dez anos, entre jovens negros de 18 a 24 anos, 55,6% estão na universidade, contra 78,8% entre os brancos da mesma faixa etária.