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Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento em tempos de Covid
A OMS (Organização Mundial de Saúde) define o uso racional de medicamentos quando pacientes recebem medicação apropriada para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período determinado e ao menor custo para si e para a comunidade.
Se não observados e obedecidos esses critérios podemos levar as pessoas a correrem riscos desnecessários, pois o uso sem orientação, a famosa “automedicação”, é uma preocupação antiga. Os dados do Sinitox (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), apontam que os medicamentos respondem pela maioria dos casos de intoxicação no Brasil, quase o dobro dos atendimentos por picadas de animais peçonhentos.
Um tratamento ineficaz poderá ainda acarretar o prolongamento ou piora da doença, aumentando as reações adversas, além de trazer consequências negativas para o paciente e, os que realmente necessitam da terapia medicamentosa serão prejudicados pela falta de medicamento nas prateleiras. Outro ponto é que, o sistema de saúde poderá ficar congestionado, uma vez que o paciente necessitará de novas consultas e até mesmo internações hospitalares. Além disso, o meio ambiente será afetado com o descarte inadequado dos medicamentos.
Isso te faz lembrar de alguma coisa?
Com o avanço da Covid-19, as vendas de medicamentos que ainda não têm eficácia comprovada contra o coronavírus aumentaram. Quem nunca ouviu alguém falando que tomar a medicação “X” ou “Y” pode prevenir a Covid-19? Ou ainda que bastava usar o “kit Covid” que estaríamos protegidos?
Para evitar o risco de automedicação, o médico precisa fazer o acompanhamento adequado para garantir que o paciente receba a dosagem correta de acordo com a individualização de cada caso, no momento certo e pelo tempo correto de determinada medicação, garantindo assim o uso racional do medicamento.
Precisamos lembrar que esses medicamentos não servem para prevenir que se contraia a doença. A única coisa capaz de fazer isso é a vacina. Por isso, a vacinação em massa é tão importante para vencermos de uma vez por todas a pandemia. Pessoas que pensavam estar imunizadas por conta do uso do “kit Covid” contraíram a doença e passaram para outros cidadãos, ou seja, elevou-se o custo da saúde para a comunidade e o problema que já é de escala global foi ainda ampliado.
Além disso, o uso de alguns medicamentos sem a supervisão médica resulta em trágicos efeitos colaterais. A hepatite medicamentosa acometeu algumas pessoas que exageraram no uso de medicamentos presente no “kit Covid” porque acreditavam que precisavam tomar o remédio regularmente para estar prevenido da doença. Outras pessoas ficaram frágeis e contraíram pneumonia bacteriana também devido alguns desses medicamentos e outras apresentaram problemas cardíacos.
O uso de medicações sem comprovação científica ocasionou ainda a ausência de determinados medicamentos nas farmácias de todo o país e pacientes que de fato faziam uso dessas medicações tiveram seus tratamentos interrompidos por decorrência da ausência desses medicamentos, o que em muitas vezes ocasionou a piora dos quadros clínicos e, consequentemente, o surgimento de sequelas irreversíveis.
O problema não é o medicamento, mas o seu uso não racional. A utilização correta é quase tão importante quanto os próprios remédios, por isso, a automedicação, orientação errada e também a propaganda contrária a um medicamento pode ter efeitos catastróficos em casos de epidemias e pandemias, como estamos vivendo agora.
Dr. Leonardo é médico pós-graduado em psiquiatria, deputado federal pelo Mato Grosso, 1º tesoureiro do Solidariedade nacional e presidente regional do Solidariedade (MT)