Nos últimos tempos, o Brasil bateu recordes com o agronegócio, no entanto, o aumento da fome tem crescido de modo acelerado no país. Como realidades tão distintas podem acontecer ao mesmo tempo? Neste dia em que celebramos o Dia do Agrônomo, nada melhor do que suscitarmos essa discussão que envolve nosso sustento e a economia geral do país.

Para diversos pesquisadores, as principais razões para essa realidade distinta e real se deve ao número crescente do desemprego, menor renda da população, alta no preço dos alimentos e carência de programas sociais bem estruturados que deem segurança alimentar aos mais pobres.

Em meio às dificuldades econômicas geradas pela pandemia, o agronegócio foi o único setor a crescer, mesmo assim, a fome no Brasil tem números alarmantes, visto que a produção do agronegócio é focada na exportação de milho e soja e não necessariamente os grãos são transformados em alimento para consumo humano,  mas em ração para animais da agropecuária

Segundo pesquisa realizada pela Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), no final do ano passado, 116,8 milhões de brasileiros conviviam com algum nível de insegurança alimentar, ou seja, falta de acesso regular e pleno a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente e 19,1 milhões enfrentavam nível mais grave, o que se chama fome.

Para Zé Silva, deputado federal e secretário nacional do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Agricultura Familiar do Solidariedade, para que a fome no país seja saciada por meio do agronegócio é necessário fortalecer a rede de assistência técnica e extensão rural, especialmente nos médios e pequenos municípios que tem sua economia baseada na agricultura, garantindo o armazenamento adequado dos produtos para que haja condição de longevidade dos grãos. Para que haja redução nas perdas de produtos perecíveis, é preciso criar uma rede de comercialização direta do agricultor para com o consumidor, assim, o campo se aproxima da cidade e traz alimentos para toda a região.

Já o governo diz que “existe claro estímulo” ao agronegócio por meio de incentivos de crédito, como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), além de programas de aquisição de alimentos, tal qual o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), no entanto, o pequeno agricultor se sente desestimulado por falta de apoio governamental, afinal, a maior parte do crédito concedido por meio desses programas não é para parcela da agricultura familiar e sim para commodities (ração animal).

Zé Silva afirma que o melhor caminho para revertermos o quadro de fome no país por meio de políticas públicas é criando a cultura de planejamento para a safra brasileira, pois a praga da lavoura existe justamente pela falta de planejamento do governo. “O governo anuncia as regras para o plantio 60 dias antes, não tem previsibilidade e precisa de um conjunto de políticas públicas que venham beneficiar principalmente a agricultura familiar que produz 70% dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, a começar pela assistência técnica, extensão rural, armazenamento e crédito rural com juros acessíveis com a renda do agricultor familiar.  Em relação às commodities, o deputado mineiro defende que o governo federal crie um conjunto de medidas que venham facilitar a redução dos custos brasileiros e a competitividade no mercado internacional. Não se pode minimizar ou ignorar que o agronegócio está presente na vida e no futuro de todos nós. ”