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Saúde 13/09/2021

Incertezas e desemprego agravam dependência química na pandemia

Incertezas e desemprego agravam dependência química na pandemia
Usuários no fluxo da Cracolândia em São Paulo (SP). Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo.

O isolamento e a crise financeira, decorrentes da pandemia de Covid-19, geraram um aumento no número de dependentes químicos no país. O SUS (Sistema Único de Saúde) registrou um aumento de 54% no atendimento a dependentes químicos em 2020 se comparado ao ano anterior. Os dados de mortalidade também aumentaram: foram 8 mil óbitos em comparação às 6.445 notificações registradas em 2019.

Assistentes sociais e pesquisadores apontam que a vulnerabilidade social e o desemprego, gerados na pandemia, são centrais no problema. Frente a situações como luto, perda da renda e isolamento, muitos acabam adoecendo e recorrendo ao uso abusivo de substâncias. 

Dados da Secretaria de Desenvolvimento Social Paulista apontam que as substâncias mais recorrentes são álcool (26,7%) e cocaína (19,8%), o perfil mais comum dos pacientes atendidos na rede pública são homens (88,4%) de baixa renda e até 43 anos (72,9%).

O abuso das substâncias é uma forma de demonstração de dor, costuma vir acompanhada de situações de fragilidade familiar ou prejuízos sociais. Em muitos casos, quando  o dependente perde o emprego e apoio familiar, o abuso acaba intensificando ainda mais a  situação de vulnerabilidade, já que o usuário fica em situação de rua.

Em São Paulo, o sistema público estadual conta com 1.377 vagas em 64 comunidades terapêuticas ou repúblicas do Recomeço, que são atualmente o principal programa público de recuperação, promovido pelo estado. Antes de chegar neste programa, todos já passaram por outros atendimentos no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).

Nessas repúblicas, o paciente tem livre acesso a rua, a internação é voluntária e busca proporcionar um “último atendimento”.  Aideia é evitar que essas pessoas voltem às ruas, proporcionando estrutura para buscarem empregos e conquistarem uma independência.

Os gestores responsáveis pelas repúblicas, relatam as diferenças de vulnerabilidade com que chegam homens e mulheres. As mulheres passam por muitos tipos de abusos e violência, até buscarem ajuda.

Outro ponto muito importante é a questão da maternidade. Mulheres que perderam a renda durante a pandemia sofrem não só pelas suas incertezas, mas também se sentem culpadas pelos filhos.  Todo esse contexto de desamparo social potencializa o abuso de substâncias. 

O impacto da pandemia na saúde mental é outro ponto importante no cenário. Uma pesquisa promovida pela OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), divulgada em novembro, avaliou que 42% dos brasileiros disseram ter aumentado o consumo de álcool na pandemia. A ansiedade, stress e o medo causados por um momento trágico, levam algumas pessoas a buscar “apoio” no uso abusivo de substâncias, uma tentativa de fuga da realidade que deve ser olhada com preocupação. 

Cabe às organizações públicas proporcionarem não só um tratamento gratuito e adequado, como também, garantir o suporte daqueles que estejam em situação de vulnerabilidade, evitando a possibilidade do primeiro uso. Uma vez que a dependência química não está mais somente ligada a uma questão de saúde, mas também a fatores socioeconômicos.