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O crime cometido pelo governo e entidades contra os aposentados é apenas a ponta do iceberg
O desconto em folha sobre as aposentadorias, realizado sem o consentimento dos beneficiários, configura—se como um dos maiores assaltos já registrados contra essa parcela da população. E o mais grave: esse problema representa apenas a superfície de uma estrutura muito mais profunda.
Como é de conhecimento geral, um iceberg mostra apenas cerca de 10% do seu volume acima da superfície, os outros 90% estão submersos. Da mesma forma, esse tipo de golpe revela apenas parte de uma realidade mais ampla e preocupante. Reportagens recentes expõem outro esquema igualmente abusivo: os empréstimos consignados, que chegam a comprometer até 70% do valor das aposentadorias. A prática de “operações casadas” e renovações de créditos sem o conhecimento do aposentado, onde o crédito é vinculado à filiação forçada a entidades, tornou-se comum e, muitas vezes, ilegal.
Há perguntas que continuam sem resposta: por que o governo utiliza a máquina pública para realizar descontos em favor de privadas? Não seria mais adequado que essas entidades de aposentados buscassem seus associados por meio de campanhas legítimas, sem interferência do Estado? Afinal, o papel do governo deveria ser unicamente o de pagar aposentadorias, e não o de intermediar ou autorizar descontos em favor de terceiros.
Apesar da presunção de inocência, garantida pela Constituição, o senso comum vê tudo isso com desconfiança. A impunidade e a continuidade desses crimes ao longo dos anos tornam irrelevante o debate sobre em qual governo o problema começou. A responsabilidade recai sempre sobre quem está no poder.
O presidente Lula anunciou que o governo estuda implementar a identificação por biometria facial para comprovar que o aposentado autorizou sua filiação a alguma entidade. No entanto, essa proposta parece manter o Estado no centro da crise. O caminho mais razoável seria o governo cumprir exclusivamente seu papel institucional e deixar que entidades privadas atuem de forma independente, sendo fiscalizadas pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
Mais do que tecnologia, é preciso vontade política e respeito aos direitos dos aposentados